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terça-feira, 22 de março de 2022

RESTAURAÇÃO DE LUMINÁRIA-ESCULTURA DE MESA

Meus queridos amigos e seguidores bem conhecem minha paixão por reciclagem e reaproveitamento. Principalmente, de garrafas e potes de vidros. Mas, hoje trago algo que foi novidade em minhas atividades de artesã. A pedido de minha sogra, eu resolvi restaurar uma antiga luminária de mesa. 
Não é uma luminária simples, mas uma estátua que serve como abajur de mesa. A peça estava bem danificada com várias partes da pintura descascando. Na maioria das vezes estas peças não são limpas de maneira adequada. Sendo usado, no processo, produtos químicos e abrasivos que danificam a pintura e a peça em si.
Sabia que não seria fácil. Não só pelo inusitado pedido a uma artesã que não desenvolve este tipo de trabalho. Como pela dificuldade de encontrar referências sobre o assunto em questão. 
Curiosos como eu fiz? Então venham comigo e acompanhe meu passo-a-passo.
pintura acrílica; restauração; abajur de mesa;
Restauração é um assunto fechado a sete chaves pelos restauradores profissionais. O que entendo plenamente. Existem cursos de preparo a nível técnico e universitário. Este tipo de trabalho requer conhecimento, treino e muita prática.
Mas, na boa, apesar da peça ser linda, não é nenhuma obra de museu ou antiquário. É um trabalho feito em resina com molde. Embora, para os leigos, como eu, não faria feio em uma exposição. 
Para minha sogra o valor é mais pelo apego emocional do que pelo valor monetário. Entretanto, contratar um restaurador profissional sairia muito caro e talvez não compensasse pela peça em si. Então, apesar dos riscos inerentes ao trabalho, aceitei o desafio. 
E, lá fui eu com a luminária-estatueta para casa. Felizmente, a parte elétrica estava funcionando a contento e não iria precisar de reparo.
pintura acrílica; restauração; abajur de mesa;
Sim, este é um trabalho que requer muita paciência, análise dos danos, respeito à peça e ao tempo de cada etapa do processo. Aqui a pressa é inimiga do resultado final. Não basta pintar sobre a tinta descascando é preciso remover ao máximo o que já está solto ou pipocando. É primordial um mínimo de conhecimento da ação e eficácia de cada etapa e produto que será empregado em todo o processo de restauração. É preciso, também, minimizar ao máximo os danos pré-existentes. Além, é claro, se antecipar aos possíveis danos futuros. 
pintura acrílica; restauração; abajur de mesa;
Lista de materiais: Esta lista pode sofrer alterações conforme o tipo da peça e acabamento.
  • Espátula de ponta arredondada
  • Lixa de papelão fina e grossa
  • Trincha macia para usar como escova
  • Pano de limpeza
  • Palitos de churrasco 
  • Massa de dois componentes Durepoxi
  • Aguarrás ou acetona 
  • Estilete (usei para cortar o excesso da cola de silicone já existente na luminária)
  • Fita adesiva com boa fixação, tipo Kraft (não use fita crepe)
  • Resina epoxi dois componentes (para auxiliar no preenchimento e vedação de buracos pré-existentes)
  • Areia fina (para auxiliar no preenchimento e vedação de buracos pré-existentes)
  • Plástico bolha, emborrachado ou espuma (para apoiar a peça ao deitá-la)
  • Pincéis macios de várias larguras.
  • Primer 7 em 1
  • Tinta fosca preta PVA e Acrílica (preferência a acrílica)
  • Verniz fosco spray
  • Pote com água para os pincéis
  • Pote, funil, seringa, palitos para a resina
  • Feltro adesivo ou manta de bidim (a manta de bidim é sintética feita de poliéster + garrafas PET recicladas. Muito usada em jardinagem e construção civil.) 
- Analise a peça
Olhe criticamente cada lado e ângulo da estatueta. 
Procure e identifique as falhas da pintura. Observe as partes descascadas e tenha uma visão real e global do estrago.
Analise a frente, laterais e costas da estatueta. Quanto a peça apresenta vários pontos de tinta descascada, indica um processo de dano mais abrangente. Provavelmente, se trata de um lento dano ocorrido ao longo dos anos. 
Diferente de um dano provocado por um atrito com outro objeto, que neste caso o dano estaria mais setorizado e limitado a uma área específica. Se fosse o caso, bastaria apenas a correção e restauração da área danificada. O que não era o  caso.
pintura acrílica; restauração; abajur de mesa;
Não se concentre apenas nos pontos maiores. Olhe de mais perto e procure por minúsculos pontos descascados em toda a peça. 
Além dos pontos já descascados, a peça apresenta áreas com a tinta fofa e outras com a pintura trincada. A tinta fofa lembra pequenas bolhas ou pipocas que estouram, daí o termo "tinta pipocando".
Observe a foto abaixo, na junção da cola do casaco com o pescoço do homem. O que parece ser um acumulo indesejado de tinta é na realidade a pintura afofada prestes a se romper e descascar. Em outros pontos, a tinta está enrugada ou trincada. E, mais cedo ou mais tarde, irão se romper e descascar.
Como eu coloquei antes, a parte a parte elétrica não precisava de reparo. Porém, em algum momento foi feito a troca a instalação elétrica e fizeram a fixação com cola quente. Gente, o que foi isto? Não, eu não vou refazer a parte elétrica. Mas, ..., me sinto compelida a minimizar o estrago no momento oportuno.  
Embora pareça robusta, a escultura possui várias partes finas e ocas. Estas áreas apresentavam buracos, alguns quase imperceptíveis. Tampar estes buracos e restaurar a integridade da peça é parte importante da restauração. Além da questão estética, estes buracos aumentam a fragilidade da área à pressão durante o processo de restauração e após ao mesmo. É preciso redobrar os cuidados e atenção nestas áreas. 😐😵😶
- Proteja o fio elétrico da luminária
Enrosque e coloque o fio elétrico da luminária em um saco plástico. Isto evita acidentes com o fio se enroscando e prendendo na peça.
- Raspe a tinta "solta"
Para raspar a tinta solta, eu optei por um instrumento sem ponta. Usei uma espátula de unha com a ponta de aço levemente boleada que não iria ferir ou arranhar a estatueta. Mas, é forte o suficiente para raspar a tinta.
Na foto abaixo, dá para ver a ponta da espátula que usei. Observe o ponto que indiquei com a seta vermelha. Dá para notar a pintura solta, pipocando e preste a se romper.
Em certo momento, bate aquele dúvida e angústia. "Onde foi que eu me meti?"
- Limpe as áreas raspadas
Para facilitar a visualização de outros pontos a serem raspados, eu resolvi limpar a peça. O objetivo é retirar todo "farelo" produzido no processo até o momento. A vontade era lavar tudinho, mas eu não quis arriscar a "molhar" o circuito elétrico e causar um dano colateral. Fato agravado pela possibilidade de encher as partes ocas e furadas com água e ter dificuldade para secá-las.
Inicialmente, usei uma trincha de cerdas macias para retirar os farelos da tinta.
 
Não sei por que, mas em seguida, eu optei em usar algodão com embebido em aguarrás. Umideci um chumaço de algodão e esfreguei na peça. Tanto na parte raspada como na ainda com tinta.
Nem sei se a tinta usada era à óleo. Acho que não era. O que estava fixo, continuou grudado na peça. Mas, a parte raspada ficou mais limpa. O que vai facilitar a fixação da próxima pintura.
Faça a limpeza de todas as áreas descascadas. Obs: Eu não tenho explicação para o verde que apareceu após a raspagem da área abaixo. Seria uma pintura anterior?
A cada etapa do trabalho, coloque a peça sob vários ângulos diferentes. Isto irá facilitar a visualização e acesso a cada cantinho da escultura. 
Ao deitar a peça, tanto para análise como para a raspagem da tinta e pintura, procure uma posição que não venha a forçar a estrutura da estatueta e ocasionar quebras. 
Prepare uma "cama" com plástico bolha, isopor ou emborrachados para evitar lesionar a estatueta. O objetivo deste trabalho é restaurar a escultura e não aumentar os danos.
Continue raspando a tinta e limpando em seguida. Mão firme, mas não pesada. 
- Tampe e vede os buracos
Antes de mais nada é preciso rever os buracos na estrutura da estatueta para calcular a extensão do trabalho e a melhor abordagem. A maioria está na perna esquerda do velho. Esta perna é oca e os buracos se comunicam. Veja na foto abaixo como a espátula entra no interior da peça.
Raspar esta área sem os fechar aumenta o risco da quebra da perna durante o processo. Então decidi dar uma pausa na raspagem para providenciar o conserto necessário.
Resolvi tampar os buracos menores com massa durepoxi. Aquela com dois componentes que ao serem misturados endurece. Fui preparando pequenas porções por vez. Não é fácil. Como a perna é oca, a massa tem a tendência de ser engolida pelo buraco. Sugiro que estique a massa na mão ou sobre um plástico um pouco maior que a abertura a ser fechada. Coloque sobre a abertura e pressione delicadamente. Depois umedeça a ponta do dedo e alise a massa até que sua borda fique ao mesmo nível que a área onde foi colocada. Deixe secar bem antes de manipular ou lixar esta área.
Já os buracos  maiores, é difícil usar a massa. Tentei e não deu certo. A massa terminava caindo no interior da perna. Fazer uma porção mais grossa iria alterar o contorno da calça do velho. Precisava criar um preenchimento interno que segurasse a massa na posição.
- Preenchendo a perna com areia e resina epoxi.
Não sei se é a melhor solução, mas foi a mais prática. Como porta de entrada da resina, elegi o maior buraco.
Primeiro é preciso ter uma noção aproximada da quantidade de material necessária. O que é bem difícil de avaliar. O melhor é ir preparando aos poucos de acordo com a necessidade.
O segundo passo é cobrir as demais "saídas". Importante que todos os buracos na perna e pé, estejam devidamente cobertos. Caso contrário a resina irá escorrer e danificar a estatueta.  Para isto, eu optei pela boa e velha fita adesiva com boa aderência. Dica: Não use fita crepe, ela não possui boa aderência e irá soltar antes da resina endurecer. 
Prepare a resina epoxi conforme a orientação do fabricante.
Posicione a estatueta para facilitar o manuseio e introdução da resina. Use apoio para que ela fique firme sem escorregar. Pode ser isopor, lençol velho, emborrachado, saco bolha, bolo de sacos, ... Lembre que os orifícios no lado contrário da perna em questão, devem estar bloqueados com fita adesiva.
Com o auxílio de uma seringa ou funil, despeje o todo o conteúdo preparado no interior da perna. Inicialmente, usei o corpo da seringa como funil. Mas, o processo foi muito lento, gota a gota. Resolvi continuar com a seringa com êmbolo. Mais rápido e prático. Dica: Recomendo o  uso de luvas durante o processo. Não usei e me arrependi. 
Fui alternando resina, areia, resina, areia, ..., até o limite desejado. Sem um funil apropriado, colocar a areia foi o  mais difícil. Mas, com paciência e determinação tudo se resolve. Se for preciso, use um palito de churrasco para empurrar a areia para o interior. Dica: o uso da areia é opcional. Apenas uma forma de economizar na resina e baratear o processo.
Finalize com resina epoxi. A resina não precisa estar rente à borda do buraco. Mais adiante iremos finalizar com a massa durepoxi. Espere secar antes de mudar a posição da estatueta e de retirar a fita adesiva dos demais buracos. 
Retire a fita adesiva dos demais buracos a medida que for sanado cada um deles, um de cada vez. Verifique a necessidade de preenchimento. Se for preciso, já com a resina colocada anteriormente endurecida, modifique a posição da estatueta. Complete o buraco alternando areia, pequenas pedrinhas e resina. Termine com resina. Deixe endurecer. 
Com todos os buracos maiores preenchidos, finalize com massa durepoxi, conforme já explicado anteriormente. 
- Finalize o processo de raspagem da pintura no restante da estatueta. Importante que a massa durepoxi esteja bem seca. 
- Lixe toda a estatueta, inclusive nas partes em que a pintura antiga não saiu. Lixe as massas durepoxi. Você pode começar com uma lixa um grossa e depois uma mais fina.
Nivele a borda da pintura remanescente com as partes sem pintura. Isto é importante para que a divisão de uma tinta não se sobressaia sobre a outra. Dobre a lixa para os detalhes menores e dobras das roupas.
Em seguida, retire todo o pó da lixa com o auxílio de uma trincha macia.
Literalmente, você varre e escova toda a estatueta e suas reentrâncias. 
Complete a retirada do pó com um pano de limpeza umedecido. Dica: a vontade é colocar debaixo da água, lavar com detergente neutro e enxugar bem. Mas, a parte elétrica da peça não foi removida e eu não quis arriscar. 
pintura acrílica; restauração; abajur de mesa;
- Reparo da fixação do bocal da luminária
Lembram da fixação do bocal da luminária com cola quente? Ainda se arrepio diante de algo tão grosseiro. Como é que um eletricista faz tamanha lambança? Não fui eu que fiz e nem estava previsto a resolução deste problema. Mas, resolvi minimizar a situação.
Com um estilete, raspei e cortei a cola quente que estava em excesso. Embora, tudo parecia em excesso. Mas, vamos nos concentrar no objetivo primordial do trabalho.
- Preparo da superfície para a pintura
Nesta etapa eu gosto de usar primer. Procuro um que tenha uma infinidade de aplicação e seja de uma marca conhecida. Não é hora para testes e experimentos. Não é a única marca que uso, mas aprecio o fato de ser polivalente.
Com um pincel macio, passe o primer em toda a superfície da peça. Tenha atenção especial para as áreas com relevos e ranhuras. 
Espere secar bem e aplique uma segunda camada de primer. Deixe secar.
Eu passei o primer inclusive no bocal da luminária. Naturalmente que não na parte interna onde a lâmpada será rosqueada. Ainda me arrepio com a visão do bolo de cola quente. 😳😶😮
- Pintura da luminária-estatueta
O acumulo de cola quente, mesmo reduzido, continuava incomodando. Resolvi começar a pintura por lá. Pintei com tinta PVA fosca na cor preta. O visual melhorou muito. Pelo menos ficou camuflado.
"Momento de devaneio. Eu quis divagar um pouco no imaginário. Pensei em pintar colorido e depois envelhecer com betume. Até comecei. Como esta peça tem muitos detalhes e cada um seria em cor diferente, resolvi que não era um boa ideia. Isto, e mais o fato da peça originalmente ser toda preta. De qualquer forma, não tinha cores o suficiente. O que não é desculpa, sempre tenho corante líquido em casa. Mas, ..., a razão prevaleceu e venceu o imaginário. E no meio do caminho, um pouco frustrada, pintei tudinho com a cor original. Preto." 👀😁😇😎
Optei pela tinta acrílica fosca. Tem várias marcas no comércio. Escolha uma que você está familiarizada. Sempre leia as especificações da tinta no rótulo.  
Use um pincel de cerdas macias para não marcar muito. Umedeça o pincel levemente na água, retire o excesso e molhe na tinta.
pintura acrílica; restauração, abajur;
Ao terminar a primeira demão. Deixe secar bem antes de pintar a segunda demão. Aproveite para revisar se ficou alguma parte sem pintar.
pintura acrílica; restauração; abajur de mesa;
Esta tinta tem uma boa cobertura e duas demãos foram o suficiente. Praticamente não dilui. Dependendo da marca e da necessidade de diluição, pode ser necessário uma terceira demão. Deixe secar bem. 
pintura acrílica; restauração abajur;
- Trocando a proteção do feltro adesivo da base da luminária 
Este feltro impede da luminária arranhar o móvel em que for colocado. Normalmente, estas peças vem com um tipo de papel de feltro adesivo. Por ser fino, com o tempo costuma ficar danificado. Eu resolvi trocar esta proteção. Como eu não tinha o feltro adesivo, improvisei com manta de bidim. Não é feltro, embora parece muito. Retirei o feltro  original, guardando a etiqueta do fabricante da luminária. Cortei um quadrado tendo como medida a própria escultura. Colei a manta na base da luminária com cola de silicone líquida. Cortei o excesso. Colei a etiqueta original no fundo da escultura. Coloque a peça em pé de tal forma que o próprio peso ajude a colagem. Revise a pintura e repare possíveis danos.
Dica: Troque o feltro ser for o caso antes de pintar a peça. Isto irá evitar possíveis danos na pintura.
manta de bidim; pintura acrílica; restauração abajur;
- Finalização com verniz fixador
Como eu optei pela tinta fosca, usei o verniz spray fosco. Agite o frasco e na distância recomendada no rótulo (leia o rótulo) passe o verniz na peça. Vire a peça e envernize o outro lado e as laterais. Dica: Ao aplicar, este verniz fica brilhante. Mas, ao secar ficará fosco. Isto ajuda a perceber se o verniz atingiu ou não toda a superfície do trabalho. 
pintura acrílica; restauração abajur; verniz fixador spray;
Peça finalizada e esperando para retornar para sua dona. Parece nova. 
Amei fazer este trabalho, até procurei cursos sobre restauração. Mas, os que encontrei presenciais ficam em São Paulo-SP. 
pintura acrílica; restauração abajur;
Enfim, peça entregue e colocada em seu lugar de origem.
Mais uma peça salva do lixo e eu ajudei. Estou me sentindo tão animada e feliz. 😊 😍
pintura acrílica; restauração; abajur de mesa;
Gostaram do trabalho de hoje? Se sim, arrisquem, façam, curtam e compartilhem. 👍
Qualquer dúvida é só perguntar, irei responder assim que puder.  Se eu não souber a resposta, prometo pesquisar para vocês. Embora, eu não tenha encontrado muita coisa sobre o assunto. Fui no  instinto. 😉
Eu vou ficar aguardando as restaurações de vocês. Se quiserem, mandem as fotos com o nome de vocês (pode ser nome fantasia) para colocar em uma atualização da postagem. ✉📧
Até a próxima postagem que pode ser arte, guloseima ou companhia (passeios, viagens, pensamentos, ...) 
Mil bjs carinhosos e um forte abraço aos meus amigos e seguidores. 
Obrigada pela visita e voltem sempre. 🙋🙋 
Fiquem na paz. 😚💋💋.
BOA SORTE e SUCESSO NOS TRABALHOS!
Obrigada pela visita. Um abraço carinhoso a todos.
                   Teresa Cintra

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