Minha infância.
A horta lá de casa tinha várias fruteiras, nada relacionado a horta (verduras, hortaliças e legumes). Um das fruteiras que mais gostava era o pé de caqui. Isto mesmo, um caquizeiro.
Na maior parte do ano, ele ficava "adormecido" em seu lugar, totalmente desnudo de folhas, apenas com galhos que pareciam secos. Nem parecia que ainda estava vivo. Aí, em determinada época do ano, uma folhinha aqui outra acolá. De repente (entre fevereiro e maio) o pé ficava todo coberto de folhas verdes e, em seguida, por flores que se transformavam em frutos.
Descobri, há um tempo atrás, que o caqui é uma fruta originária da china e veio parar no Brasil, trazido pelos japoneses (É, não foram os chineses) e existem vários tipos e com coloração que vai do amarelo ao vermelho. O nº de sementes do fruto também varia conforme o tipo.
O pé de nossa horta era o do tipo Rama Forte. Não sei como uma das mudas terminou na horta de minha infância. Só sei que, juntamente com minhas irmãs, Angélica e Vera Lúcia, adorava me deliciar com este delicioso fruto colhido diretamente no pé. Quando bem maduro é docinho e suave. A polpa é viscosa e macia, firme no início passando a mole com a evolução da maduração. As sementes, quando existentes, são minúsculas e facilmente devoradas com a polpa, a pele se torna fina e bem frágil, chegando a rachar.
E era este fruto maduro e relativamente frágil, que após saciar a nossa gula, inspirava mil travessuras. Sutilmente olhávamos umas para as outras, apenas com o canto dos olhos, enquanto armazenávamos o maior número de frutos que conseguíamos juntar com as mãos. O sorriso maroto e moleque já alardeava o que vinha em seguida. Poft! Declarada a GUERRA DE CAQUI!!!
Era caqui arremessado pra todo o lado, no meio de muita gritaria e numa correria só. A folia era imensa com risadas escandalosas. Nossa mãe não tardava em gritar, mais alto, os nossos nomes. Inicialmente, apenas o primeiro nome, depois o nome composto (eu e meus irmãos temos nomes compostos, que quando eram usados por nossa mãe era sinal de bronca grande).
Como não atender o chamado insistente de uma mãe zelosa e tão decidida? E lá íamos nós, frustradas pela quebra da brincadeira, mas com a certeza de que, se não atendida, aquela bronca iria se transformar em castigo real. E com a cabeça baixa e tentando inutilmente cobrir as roupas tingidas de vermelho caqui, descíamos da horta (que ficava em um nível mais alto que a nossa casa, amparada por um muro de arrimo), obedientes e disciplinadas. Tão silenciosas como seria possível a três molequinhas vindas de uma grande guerra de caqui. Nesta hora, desarmada pela obediência sem protestos, nossa mãe abrandava a voz e ordenava:
- Já para o chuveiro! As três! E não quero o chão da casa sujo!
E com um breve, "sim, senhora", corríamos para dentro de casa na maior ligeireza, deixando no caminho uma trilha de polpa de caqui que sabiamente ignorávamos. O resto do dia transcorria tranquilo e sem travessuras. Nada como a paz conseguida por uma trégua de um ou dois dias.
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
Ah, nostalgia!
Ah, nostalgia!
Lembranças acionadas por uma grande caixa de caqui que meu marido ganhou no trabalho. Aqui em casa eu e ele adoramos caqui. Meu filho come um pequeno pedaço. Minha filha agradece, mas declina a oferta sem a menor cerimônia. E o que fazer com tanto caqui?
Dividimos o conteúdo com uma prima que mora no mesmo prédio, e o que ficou ainda era muito para o nosso consumo. Resolvi a questão fazendo geleia de caqui com acerola. A acerola resolvi colocar no meio do processo, pois achei que o gosto estava meio sem graça. Estava faltando um algo mais. Talvez a graça do caqui estivesse no fruto sendo estourado nas costas de uma guerreira do caquizeiro. Rsrsrsrsrsrsrsr. A verdade é que a combinação deu super certo. Então vamos à receita:
GELEIA DE CAQUI COM ACEROLA:
Escolhendo os caquis:
O mais importante é separar os caquis bem maduros para a geleia. Não use os verdes e nem os muito firmes. Use aqueles que já apresentam uma certa rachadura na casca, que já deve estar bem fininha e frágil. Evite aqueles caquis que travam na boca por conta de "cica" (adstringência da fruta quando está fora de época ou quando é colhida muito verde). Esta cica também é encontrada nos caqui que apresentam polpa taninosa.
Caso os caquis que você adquiriu possuam esta adstringência, que é bem desagradável ao paladar, você deve fazer o processo de destanização caseira. Coloque uma colher de chá de vinagre (ácido acético) ou álcool no cálice do fruto recém-colhido. Deixe os frutos dispostos em um tabuleiro ou na própria caixa e espere 4 dias para completar a destanização. É importante que os frutos fiquem com a parte do cálice com o vinagre ou álcool virado para cima. Este processo só serve para frutos com a coloração amarelo-avermelhada, que ainda não completou seu amadurecimento. Convenhamos que é impossível deixar um fruto totalmente maduro aguardando 4 dias para a destanização.
INGREDIENTES:
- 1 kg de Caqui
- 1 kg de açúcar (ou um pouco menos se preferir menos doce)
- Suco de um limão taiti
- 200ml de suco concentrado de acerola ou polpa (Eu usei a polpa)
- Lave os caqui, retire o cálice de onde sai o cabo.
- Corte as frutas em pedaços, retire o miolo que é a parte mais fibrosa. Não precisa retirar as sementes, que são pequenas, a não ser se a variedade do seu caqui tiver muitas sementes. Aí é uma questão pessoal.
- Eu retirei a maior parte da pele (casca), mas você não precisa tirar, a geleia será peneirada em um passo mais adiante.
- Em uma panela de fundo grosso coloque o caqui, o suco de limão e por cima o açúcar. Misture e leve ao fogo alto.
- Não precisa adicionar água, pois o caqui tem muito líquido e o açúcar se dissolve rapidamente. Mas se a geleia estiver muito compacta (grossa) acrescente um pouco de água.
- Deixe ferver bem, mexendo ocasionalmente. Caso a geleia comece a grudar no fundo da panela, diminua o fogo e mexa. Cuidado para não queimar ou você irá perder toda a geleia.
- Não se assustem a geleia forma muita espuma.
- Com o auxílio de uma escumadeira retire a espuma que vai se formando na superfície da geleia.
- Peneire a geleia para retirar alguma pele (casca) que tenha ficado.
- Volte tudo para a panela, menos o resultado da peneirada.
- Hora de acrescentar a acerola. Dica: Eu usei polpa, mas você pode usar suco concentrado de acerola fresca ou em garrafa. 200ml corresponde a uma xíc/chá de suco ou polpa.
- Misture e leve novamente ao fogo alto até dar o ponto. Durante o processo, continue retirando a espuma que se forma na superfície. Lembre-se que a geleia endurece depois que esfria.
- Despeje a geleia ainda quente nos frascos, vidros ou potes, que devem estar limpos, esterilizados e quentes. Tampe-os.- Todos os frascos devem ser limpos e esterilizados antes de serem usados. Não importa se novos ou reciclados.
- Se for para comercializar, não deixe de pasteurizar os frascos prontos por 10 minutos. Providencie rótulos com as informações pertinentes ao produto.
- Se forem seguidos os cuidados com a esterilização dos frascos e pasteurização do produto final, não será necessário por em refrigeração.
- Uma vez aberto o frasco, a refrigeração passa a ser obrigatória para maior segurança e manutenção da qualidade do produto. As conservas possuem sua durabilidade reduzida pela possível contaminação do ambiente. Em outras palavras, abriu o vidro, coloque em geladeira e reduza o tempo de validade.
- Evite usar vidros grandes.
Por que geleia de caqui? O caqui é uma fruta com pouca caloria (80 calorias por 100gr), rica em cálcio, ferro, proteínas, vitaminas (A, B1, B2 e C) e pectina. A pectina é um componente importante na fabricação de geleias, pois é esta enzima que dá a consistência e a capacidade de gelificação.
Coma com torradas, biscoitos de leite, pães, bolos, sobre sorvetes, com iogurtes naturais, como cobertura de tortas... As opções são várias.
Até a próxima receita, fiquem em paz. Fui!!!
e vocês tiverem gostado desta postagem, não deixem de ver:
GELEIA CASEIRA DE UVA
GELEIA DE MORANGO
GELEIA CASEIRA DE MARACUJÁ
Até a próxima receita, fiquem em paz. Fui!!!
BOM APETITE!!!
Obrigada pela visita. Um abraço carinhoso a todos.
Teresa Cintra
GELEIA CASEIRA DE UVA
GELEIA DE MORANGO
GELEIA CASEIRA DE MARACUJÁ
Olá Teresa. Esse final de semana tentei fazer a geléia, mas o resultado não ficou bom... tinha cica ainda, apesar de frutos bem maduros. Alguma fica?
ResponderExcluirMeu e-mail é caroline.hasten@gmail.com
Obrigada!!
Bjo
Olá, Caroline.
ExcluirA única dica que posso dar é a seleção minuciosa dos frutos. O cozimento não elimina a cica. Portanto, experimente um pedaço para ter a certeza que estão bem maduros. Normalmente, eles apresentam a casca fina e rachada.
Frutos retirados muito cedo do pé (ainda verdes), geralmente não amadurecem plenamente. Sempre fica a sensação de um pouco de cica. O fruto deve ser retirado do pé quando está amarelo e começando a ficar vermelho ou já vermelho ou já maduro.
Outro problema para frutos comprados em supermercados é que passam por refrigeração antes do amadurecimento. O que atrapalha o processo natural. Isto vale para qualquer fruta.
Mas, sempre se pode tentar a destanização caseira, conforme explicado no início da postagem. Após o processo experimente e veja o resultado. Se a cica tiver desaparecido, o sabor for doce e suave, use o fruto normalmente.
Com relação ao sabor da geleia, lembro que ficará suave como o próprio fruto. Não fica uma geleia marcante como de maracujá ou morango.
Por outro lado, se ela estiver sem cica, você pode usá-la como base para outras frutas e com isto agregar mais sabor e nutrientes.
Espero ter ajudado. Depois me informe o resultado da nova tentativa.
Obrigada pela visita.
Bjs.