JABUTICABA SABOR DE INFÂNCIA
Quando criança eu e minhas irmãs apelidamos
a jabuticaba de olho-de-boi. Coisas de criança. Mas, a bem da verdade, quem já
viu um boi de pertinho, sabe o que estou falando.
Tínhamos uma vizinha, algumas
casas distante, com um pomar imenso e cheio destas árvores. Na época, aos nossos
olhos, aquele pomar, era como uma pequena floresta, cheia de novidades e
aventuras.
Na primavera e no verão, ocasionalmente, os proprietários abriam o seu pomar para as “crianças da rua” ou mandavam cestos cheios da fruta para suas mães. Ora devorados in natura, direto no pé ou do cesto, ora transformados em geleias e licores. Não importava. O que valia era a alegria que contagiava com um gesto tão simples e sem segundas intenções. Pura cordialidade entre vizinhos. Cestos que eram devolvidos com outra gentileza. Uma geleia da própria fruta, ou outras frutas ou verduras.
Ops! Ahahahahahahahahaha. Agora é
que me dei conta.
Assustei vocês com o termo “crianças
da rua”? Desculpem, mas não me refiro às “crianças de rua”,
aquelas abandonadas com ou sem família. Estou me referindo àquelas crianças,
que morando no interior, em uma época nem tão longe assim, brincavam com seus
vizinhos da mesma faixa etária, usando a rua como cenário principal. Ciranda,
cabra-cega, pique, passar-anel, pular corda, queimada, pique jacaré, bambolê, entre
tantas outras já esquecidas pela geração atual. Época que as portas e janelas
das casas ficavam abertas, permitindo a entrada e saída de seus pequenos e
destemidos ocupantes. Medo? Só sentíamos à noite. Quando o véu noturno apagava
as “coisas”, era a hora do bicho papão, que sempre ia embora com a reza do “santo
anjo”, um abraço materno protetor e pronto. Como por um milagre o dia voltava e
com ele mais alegrias e brincadeiras.
Nostalgia? Talvez. Mas não surgiu do nada. Veio dentro de um
pequeno saco com várias jabuticabas recentemente colhidas, que meu marido vislumbrou
em uma rápida parada no semáforo. Sinal vermelho. Parada obrigatória. E bem na
esquina uma barraca improvisada com pequenos amontoados da fruta de minha
infância: a Jabuticaba. Conhecedor de boa parte de minhas histórias (não são
estórias, porque são verdadeiras) de infância, ele não hesitou. Selecionou e
comprou sem pestanejar. Um pequeno mimo, com gosto de saudade e nostalgia.
A simples visão do fruto foi longe. Buscou lembranças que
nem sabia ainda as ter. Tão vívidas e presentes, com o sabor de jabuticaba,
parecendo ter sido ontem. Por pouco não
perdi a noção do tempo e espaço. Cheiros e sabores reativados. Frutas
devidamente lavada (coisa que não era comum na época, e ainda estou viva). Chegou
o momento. A hora ansiada por toda criança de minha infância, pronta para um só
comando: ATACAR! Com gosto e vontade, abocanhei a maior que encontrei. Ávida.
Necessitada. Carente daquele sabor. Amanhã? E eu com isto? A fruta é altamente
perecível fora do pé. Não dura nadinha de nada depois de colhida.
Não sei ao certo o que interrompeu o processo de
reconhecimento e resgate de velhas lembranças. Se foi o olhar surpreso de meu
marido ou o seu pequeno comentário de quem estava satisfeito pela compra:
- Que bom que você gostou!
O que mais poderia responder?
- Amei!
Aff, onde está minha educação de infância, sempre repartindo
com os amigos? Tentando corrigir o erro, ofereci:
- Quer?
- Não obrigado. Comprei pra você.
Bom, a verdade é que meu marido é um sábio. E os sábios não
precisam de diamantes ou esmeraldas. Eles possuem a sabedoria da escolha do
momento.
Agora, com licença, que tenho um pote de jabuticaba pra
devorar, antes que alguém mude de idéia. Fuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii.
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